Aero Boero 115, o
treinador argentino
Antigo
DAC comprou centenas de unidades para reequipar os aeroclubes na década
de 1990
10/03/2010
(Valdemar
Júnior)
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No final de 1968, a
argentina Aero Boero estava tendo dificuldade para receber os motores
O-200 (100 hp), da Continental, pois a empresa norte-americana estava
tendo que cumprir o prazo de entrega de motores encomendados no Oriente
Médio e, consequentemente, ficou sem recebê-los, e resolveu remotorizar
o AB-95 com o motor Lycoming O-235-C2A (115 hp), dando origem ao AB-115.
Remotorizado, o avião AB-95A, número de série 026, voou pela primeira
vez em dezembro de 1968, recebeu a homologação em maio de 1969 e a
produção foi iniciada logo em seguida.
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Divulgação - Aero
Boero |
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As três vistas do
Aero Boero 115.
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Inicialmente, o novo
modelo foi oferecido ao mercado como Aero Boero 95/115 Standard e Aero
Boero 95/115AG (para pulverizar lavouras). A produção desses modelos foi
encerrada em 1973, quando o 12º e último exemplar, matriculado LV-JXR,
saiu da linha de produção e foi modificado para dar origem ao AB-115BS,
uma versão desenvolvida para o Ministério de Bem-estar Social de La
Nación, da Argentina, que contava com espaço para receber uma maca. As
novas asas tinham pontas côncavas e passaram a ser utilizadas nos novos
modelos.
O AB-95
O AB-95 foi desenvolvido pelos irmãos César e Héctor Boero, com a ajuda
de Celestino Barale, em 1958, baseado no conceito de desenho adotado por
Clarence Gilbert Taylor para os Cub. Trata-se de um monoplano de asa
alta e trem de pouso fixo convencional, para dois ocupantes em tandem. A
estrutura é feita em tubos de aço soldados, com algumas partes em
alumínio e fibra de vidro. O revestimento é feito com tela tratada com
anticorrosivo.
As asas eram reforçadas com longarinas de alumínio e tinham flaps. O
protótipo foi terminado em fevereiro de 1959 e voo pela primeira vez no
dia 12 do mês seguinte, com a matrícula experimental LV-X20. Após poucas
modificações, o modelo foi considerado apto para o voo pela Aero Boero e
ficou decido produzí-lo em série após estudo de mercado.
Para receber a homologação e a certificação do avião pelo governo
argentino, a caminhada foi longa. Pedida em 1960, a documentação só saiu
dois anos depois, após 600 horas de testes em voo. Homologado e
certificado em 9 de outubro de 1962, o protótipo recebeu a matrícula
LV-CHB, em homehagem aos irmãos César e Hector Boero. No mesmo ano foi
anunciada a venda de 10 aviões para a Fuerza Aérea Uruguaya e a eventual
fabricação sob licença no Uruguai, mas isso não aconteceu.
Em 10 de setembro de 1963 foi aprovada pelo governo argentino a
subvenção do Conselho da Indústria Aeronáutica, que seria paga pela
Secretaria de Estado da Aeronáutica para cada avião produzido, mas a
produção foi iniciada antes, em novembro de 1962, quando a asa de
madeira foi substituída por uma totalmente metálica, dando origem ao
AB-95A, e 5 aeronaves (números de série 002 a 006) saíram da linha de
montagem. O primeiro exemplar entregue foi o 003, em junho de 1963, com
a matrícula LV-HPN, para a empresa de pulverização agrícola Avia SRL.
Foram fabricados 25 Aero Boero AB-95. O último foi entregue em janeiro
de 1969.
A partir de 1964 foi desenvolvida a versão AB-95B, equipada com um motor
Lycoming O-320, com 150 hp de potência. Com o passar dos anos, alguns
AB-95A foram modificados para a versão agrícola.
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Valdemar Júnior -
24/08/2008 |
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Aero Boero 115,
PP-GLA, do Aeroclube de Bragança Paulista, sobrevoando o
aeroporto de Americana
durante o primeiro
Aerofesta.
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AB-115
Com nova empenagem, o Aero Boero 115 voou pela primeira vez em dezembo
de 1973, na cidade Morteros. Após substituir o AB 95 na linha de
montagem, foram fabricados os modelos 115 Standard, 115 BS e 115 AG. A
partir de 1975, foi oferecida a versão AB 115/150, para pulverização
agrícola, com um motor Lycoming O-320, de 150 hp. E, em 1988, ficou
pronto o modelo 115 Trainer, utilizado atualmente nos aeroclubes
brasileiros.
Além de encomendar centenas de AB 115 Trainer, o DAC (Departamento de
Aviação Civil), substituído posteriormente pela ANAC (Agência Nacional
de Aviação Civil), comprou algumas dezenas da versão 180RVR, com um
motor O-360-A1, de 180 hp, para rebocar planadores.
Em 1987, a Aero Boero venceu a concorrência internacional do Ministério
da Aeronáutica do Brasil para compra de aviões de instrução básica e
para reboque de planadores, visando a modernização e o reequipamento dos
aeroclubes, que ainda utilizavam aeronaves obsoleta, com idade média de
50 anos (Paulistinha CAP-4 e P56-C, Piper J3 e PA-18, entre outros,
todos sem rádio VHF, partida elétrica, e luzes de navegação noturna) e
tinham diversos aviões aposentados por serem inviáveis as suas
recuperações.
A Aero Boero apresentou os menores valores, e recebeu a homologação e
certificação dos AB-115 e AB-180 pelo CTA (Centro Técnico Aeroespacial)
no dia 26 de outubro de 1989, depois de uma equipe brasileira passar 12
dias na fábrica de Morteros, onde foi feita a inspeção das instalações
seguindo as normas brasileiras.
Primeiramente, foram encomendados apenas sete AB-180RVR e 20 AB-115
Trainer, mas, em seguida, ficou acertada a encomenda de um lote de 100
aeronaves em 1988 e, posteriormente, outros 350 foram encomendados no
ano seguinte, incluindo os AB-180. Os primeiros exemplares chegaram ao
Brasil em dezembro de 1990, e os últimos em janeiro de 1994, totalizando
366 entregas, sendo 306 AB 115 Trainer e 60 AB 180. As dificuldades
financeiras enfrentadas pela empresa na Argentina e os problemas com a
economia brasileira fizeram a Aero Boero atrasar a entrega de aviões ao
Brasil, pois a companhia não poderia cumprir as suas obrigações enquanto
a viabilidade financeira do negócio foi se tornando cada vez mais
marginal e, com isso, os outros 84 aviões encomendados não foram
entregues porque o governo brasileiro não tinha dinheiro para comprá-los
por estar passando por uma crise financeira desde 1993. Cada avião
custou US$ 74 mil.
Em comparação aos antigos J3 e Paulistinha, utilizados na instrução
básica pela maioria dos aeroclubes brasileiros, o AB 115 tinha como
grandes novidades a partida elétrica, rádio intercomunicador e VHF, e
luzes de navegação.
O avião é criticado por muitos brasileiros pelo fato de não poder
realizar algumas manobras acrobáticas que eram previstas na formação de
pilotos, como o parafuso, feito anteriormente com os antigos Paulistinha
e J3, o que trouxe um retrocesso na formação de pilotos. Os assentos não
podem ser regulados em distância e em altura, e o trem de pouso está
muito à frente do CG (Centro de Gravidade), além de não ter
amortecedores.
Contam a seu favor a boa visibilidade para o piloto, e a razão de
planeio de 11:1, além do baixo custo operacional.
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Rodrigo Zanette -
23/06/2007 |
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Aero Boero 115,
PP-FLF, do Aeroclube de Rio Claro, sobrevoando o
aeroporto de Rio Claro.
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Foram fabricados 420
Aero Boero 115, um recorde histórico para a indústria aeronáutica
argentina até hoje, que aguarda pela reativação da linha de fabricação
do modelo para aumentar esse número.
A empresa
A argentina Aero Boero surgiu como Aero Talleres Boero (Oficinas Aero
Boero, em português), fundada pela família Boero em maio de 1956, na
cidade de Morteros, região noroeste da província de Córdoba, na
Argentina, para realizar serviços de manutenção e reparos em diversas
aeronaves, utilizadas principalmente na pulverização de lavouras.
Os irmãos César Hernesto e Héctor Boero acumularam muita experiência na
reconstrução de algumas partes de aeronaves, sendo que alguns aviões
necessitavam ser reconstruídos após acidentes, o que os levou a
construir muitas fuselagens de tubos de aço soldados, além de asas e de
realizar a pintura total de aviões.
E foi após a realização desses serviços que os irmãos Boero resolveram
partir para o desenvolvimento e fabricação de aeronaves próprias em
1958, com o amparo de uma nova legislação protecionista argentina.
César e Héctor Boero uniram-se a Celestino Barale para desenvolver um
protótipo do futuro Aero Boero AB-95, o antecessor do Aero Boero AB-115,
que voou pela primeira vez em 1959 e foi certificado em 1962, quando foi
iniciada a produção em série. As primeiras entregas foram feitas um ano
depois.
Com o aumento da demanda, a fábrica foi ampliada e a empresa
reorganizada em 1975, após ser capitalizada, e a antiga Aero Talleres
Boero Sociedad de Responsabilidad Limitada se transforrnou em Aero Boero
Sociedad Anónima, permanecendo o controle acionista com a família Boero.
Em 20 de outubro de 1978, a cidade de Morteros foi atingida por um
ciclone, que destruiu o galpão da Aero Boero. Além disso, foram perdidos
dez aviões, o protótipo quase finalizado do AB-260 e seus exemplares em
construção. Os problemas não pararam por aí, pois a empresa deveria
cumprir o prazo de entrega de diversas aeronaves, obrigando a empresa a
construir imediatamente um novo local para produzir as aeronaves
encomendadas, localizado na região sul de Morteros. Ao mesmo tempo, foi
reconstruído o galpão destruído e a fabricação foi retomada de forma
precária, e a fábrica foi sendo transferida aos poucos para a nova
unidade fabril, inaugurada oficialmente em outubro de 1981.
O novo galpão tinha 2.000 metros quadrados e recebia onze seções:
Usinagem, solda, asa, entelagem, plásticos, pintura, jateamento,
montagem, motores, manutenção e armazenagem. Também foi construído um
banco de provas de motores em 1983, quando a empresa contava com 30
funcionários.
Em 1987, praticamente toda a produção era absorvida pelo mercado interno
argentino. Os clientes principais eram aeroclubes e clubes de
planadores, que recebiam subvenções estatais, além de empresas de
pulverização agrícola, por ter baixo custo operacional, mas, no mesmo
ano, a economia argentina entrou em crise, com altos índices de
inflação, praticamente inviabilizando as vendas no mercado interno. Ao
mesmo tempo, o custo com mão-de-obra caiu e a empresa iniciou uma
campanha agressiva para alavancar as vendas no exterior, o que levou o
Brasil a comprar os seus aviões.
Para cumprir os prazos de entrega dos aviões encomendados pelo governo
brasileiro, foi construída uma nova unidade fabril na cidade de San
Francisco, onde eram produzidos diversos componentes estruturais, e foi
contratada uma rede de empresas terceirizadas, além de diversos novos
funcionários.
Em 1989, foi acertada a venda de 108 AB-115 Trainer para o Peru, sendo
um primeiro lote de 24 unidades e mais três lotes anuais de 28
aeronaves, cada um. O contrato foi logo rompido pelo governo peruano,
que não tinha como pagar os aviões, pois o país andino havia acabado de
mergulhar em uma crise financeira.
Contratos com Argélia e Paquistão fizeram a Aero Boero subcontratar
empresas de países da ex-União Soviética para fabricação de células,
pois a mão-de-obra desses países era mais barata do que na Argentina.
Os negócios com o Brasil começaram a se tornar inviáveis e, logo depois,
houve o cancelamento da entrega de 84 aeronaves, pois o governo
brasileiro não tinha como pagar a empresa argentina, pois vivia uma
grave crise econômica desde 1993.
A hiperinflação argentina deu origem a lei de conversibilidade, que
transformou a Argentina em um país caro, com o agravante da eliminação
total de subsídios e subvenções estatais e, em pouco tempo, a Aero Boero
deixou de ser uma empresa exportadora para se tornar uma companhia sem
trabalho.
Em 1991, a Aero Boero resolveu fazer um estudo e mercado para iniciar a
produção de uma aeronave de maior valor agregado. A empresa comprou um
monomotor Grob G-115 para tentar fabricá-lo sob licença do fabricante
alemão. A Aero Boero teve muitas dificuldades para homologar e
certificar o modelo e abandonou o projeto em 1993. O avião voltou para a
Alemanha em janeiro de 1994.
No final da década de 1990, a Aero Boero fazia apenas alguns serviços de
reconstrução de aeronaves, além de vender alguns componentes para
reposição. Em 2000 seriam homologados os modelos AB-115 Trainer e
AB-180RVR na Europa, que deveriam ser fabricados sob licença, mas isso
nunca aconteceu.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a Aero Boero continua
existindo, porém, de forma inativa, apenas vendendo peças para manter
seus aviões operacionais e tentando voltar a fabricar aeronaves.
FICHA TÉCNICA |
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Aero Boero AB
115 Trainer
Fabricante:
Aero Boero S. A.
País de origem: Argentina
Comprimento: 7,08 m
Envergadura: 10,90 m
Altura: 2,10 m
Lugares: 2 (em tandem)
Velocidade de cruzeiro: 170 km/h (105,6 mph)
Velocidade máxima: 220 km/h (137 mph)
Alcance: 750 quilômetros (4,5 horas)
Distância de decolagem: 100 m
Distância de pouso: 80 metros
Peso máximo para decolagem: 802 quilos
Carga útil: 246 quilos
Peso vazio: 556 quilos
Capacidade de combustível: 114 litros (2 tanques com 57
litros cada um)
Motor: AVCO Lycoming O-235 C2A (115 hp a 2.800 rpm)
Hélice:
Sensenich 72CK-O-50 de metal e passo fixo |
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